segunda-feira, 27 de agosto de 2007

SABEREI

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Será que estou preparada?
Sei que não
A vida faz questão de me mostrar
E eu, de me enganar
Vim aqui para isso
Ser, viver, sentir
Amar, sofrer
E quando chegar a hora
O que irei fazer será
Mudar










Até.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

ACOMPANHANTE

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Observo
Cuidado
Conto o tempo que as gotas levam pra cair
Com atenção na respiração
Vigilante,
Atenta na vida que me gerou
Queria poder um dia
Retribuir o bem que me deu
Além do sopro da vida
Os ensinamentos e princípios
Que da minha maneira usufruo
Lamento somente
Por muitas vezes sentir
Que de tanto nos amar
Sacrificou suas alegrias
E hoje vive na ilusão
Do escuro e sombrio vazio
Que com esforço tento
Com a luz que me deste
Iluminar pra ti o que pra mim é claro
Que és uma fonte inesgotável
De doçura, felicidade e amor.










Até.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Medo de se apaixonar

Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já estar apaixonada.

Fabricio Carpinejar







Fabrício Carpinejar é poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nasceu em Caxias do Sul (RS) aos 23 de outubro de 1972. É autor dos livros "As Solas do Sol", publicado em 1998 pela Bertrand Brasil, "Um Terno de Pássaros ao Sul", publicado pela Escrituras Editora, em 2000, reconhecido pela Enciclopédia Britannica como um dos destaques da literatura brasileira em 2001, e "Terceira Sede", pela Escrituras, em 2001.
Seu nome vem sendo saudado como uma das revelações da poesia brasileira por escritores como Antonio Skármeta, Ivo Barroso, Fernando Monteiro, Antonio Carlos Secchin, Carlos Heitor Cony, entre outros.

Para conhecer mais...
http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/
http://www.carpinejar.com.br/









Até.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

APENAS PALAVRAS

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Escrevo
Confissão de minha alma
Sinto-me patética
O que importa?
A quem importa?
Completamente nua
Explícito Eu
Mas sei que
Na poesia como na vida
Me verão como querem
E não como sou











Até.

terça-feira, 31 de julho de 2007

LEVE

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Algo daqui leva de bom
Leve sentimento
Sinta
Flui
Energia que alimenta o ser
Purifica
Mente leve
Para mim
Amor














Até!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

NOSSA MELODIA

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As gotas da chuva que batem na janela
Tentam minha atenção
Mas sabem que é em vão,
Pois meus pensamentos estão muito além
Além de onde elas possam chegar
Ao contrário de ti
Que está lá, além
Dentro de mim
Tocando com cuidado
Tentando transformar em melodia
As notas que juntos escrevemos.






















Até.

terça-feira, 24 de julho de 2007

QUERER, PODER!

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Às vezes sinto medo do que quero
Quando percebo que aquilo que desejava
Acontece, aparece, é.
Quando pequena,
Queria que moça pudesse morar só
Compartilhar de momentos comigo
E também com boas pessoas
Cá estou.
Depois deste, desejei muitas coisas
Um bom emprego,
Pra podes pagar as contas, claro.
Puft!
Cobicei muitas vezes coisas
Que não teria coragem de contar a ninguém,
Mas confesso que consegui.
Coisas que pensava jamais ser capaz de conquistar
E pimba, lá estava.
E isso tudo sem pretensão,
Aqueles desejos que passam pela sua cabeça
E logo em seguida vem a consciência e diz
“Acorda minha filha” e você volta à realidade.
E já esta acontecendo novamente.
Mas juro,
Não tenho nada haver com a morte do ACM.








Até!

terça-feira, 10 de julho de 2007

"...Os dias que eu me vejo só, são dias que eu me encontro mais..."

Olá, a quem está aqui lendo isso...

Hoje vou postar uma música do Rodrigo Amarante, que li ontem no Sarau Benedito, primeiro Sarau Temático, Poetas da Música...

Pra quem não conhece, Rodrigo Amarante é integrante da Banda Los Hermanos, tanto ele quanto Marcelo Camelo, na minha opinião com relação aos novos compositores tem se revelado grandiosos, jovens com percepção da verdade dos sentimentos e relações e que conseguem transmitir isso de uma forma belissima atraves de suas letras, sem vergonha de demonstrar o que sentem e pensam. Lindo!

Pena que eles estejam dando "um tempo" para se dedicar em suas áreas especificas, nos prometendo voltar... esperamos que sim...

Bem, ai vai...


Condicional
Los Hermanos
Composição: Rodrigo Amarante


Quis nunca te perder
Tanto que demais
Via em tudo céu
Fiz de tudo cais
Dei-te pra ancorar
Doces deletérios

E quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão
Que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor
O sabor de fel
É de cortar

Eu sei é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar me ver
Antes de te ter e de ser teu, muito bem

Quis nunca te ganhar
Tanto que forjei
Asas nos teus pés
Ondas pra levar
Deixo desvendar
Todos os mistérios

Sei, tanto te soltei
Que você me quis
Em todo o lugar
Li em cada olhar
Quanta intenção
Eu vivia preso

Eu sei é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu
O que eu queria, o que eu fazia, o que mais?
E alguma coisa a gente tem que amar
Mas o que, não sei mais

Os dias que eu me vejo só são dias
Que eu me encontro mais e mesmo assim
Eu sei também existe alguém pra me libertar





É isso ai...
Tudibom pra vcs e...

Até!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Dia dos Namorados


Deus inventou o amor...
O Homem inventou o Dia dos Namorados... (há!)

Cuidado! Você namorado, se não der um Feliz Dia dos Namorados a sua respectiva, um presentinho, um beijinho, você corre o serio risco de adquirir um problema. Você pode até ter passado um ano inteiro de dedicação, demonstração de carinho, amor e tudo mais, mas se hoje, você falhar, não será perdoado.
Essa foi a consciência implantada pelo comércio, haha, “tamo ferrado nego”.

Demonstre carinho pela pessoa que gosta, não só hoje, mas todo o dia que sentir vontade, não deixe pra falar depois, não tenha vergonha, declare-se! Quando o sentimento é sincero deve ser mesmo declarado, faz bem pra você e pra pessoa que recebe. E também, não deixe pra fazer isso no dia que o comércio declarou ser o dia das demonstrações de carinho entre namorados... hahaha...

Bem... “cadum cadum” né... o que seria do amarelo se não fosse o gosto... hehehe... (Eu gosto de amarelo!)


Feliz Mais um Dia, este também denominado Dia dos Namorados...





Até!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Correção de "Eu sei mas não devia"

Gente... influenciada sibernéticamente, cometi um erro e venho agora corrigi-lo...



O texto EU SEI MAS NAO DEVIA, é de autoria de MARINA COLOSANTI, e não de Clarisse Lispector conforme havia postado anteriormente... (eu e mais a metade da torcida do Flamengo)... hehe






Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.



O texto EU SEI MAS NÃO DEVIA foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.


Bem, agora de conciência limpa com a autora deste maravilhoso texto...
Me despeço!


Até!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Sei que não vou por aí...

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou.

- Sei que não vou por aí!


José Régio






Achei maravilhoso... tem haver inclusive sobre o que escrevi ontem...



Muitos tentam nos convencer a seguir o caminho comum... Mas eu... vou por onde meus próprios passos me levarem... Não sei onde... talves não saiba como... mas sei dos princípios que tenho... me basta! Não vou por ai...







José Régio é o pseudônimo do poeta português José Maria dos Reis Pereira (1901-1969). Lincenciado em Letras em Coimbra. Romancista, dramaturgo, ensaísta, crítico e poeta. Escrevia sobre os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

"Realidade"

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Daqui,
Vejo a fria realidade que toma conta
E que tenta a cada dia me sugar
Para viver no mundo dos sentimentos superficiais,
Conceitos fáceis, coisas simples,
Que fazem com que a vida perca o brilho e
Importância que realmente tem

Feliz daquele que consegue viver na beleza da poesia.




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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Eu sei mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostumaa acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã
sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduiche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e
ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso
de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
Agente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos,para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.


Clarice Lispector























Como diria um amigo meu... "Isso foi um soco na boca do estômago!" (que violência...)
Dica de leitura de muitos amigos(as)... a todos!




Até

segunda-feira, 14 de maio de 2007

O que diferencia, a LOUCURA da GENIALIDADE???

"O que diferencia a Loucura da Genialidade???" Casa de Orates


Se você vive desenvolvendo e adiquirindo aquilo que é necessário para sua sobrevivência, de forma simples, em harmonia com você e com sua essência, não se encaixa no perfil capitalista implantado na mente das pessoas de hoje, e se não estás de acordo com o que dizem ser correto, és considerado um "Zé Ninguém", ou ainda pior, um louco, contrário daqueles que seguem a maré, que são os homens corretos, os nossos gênios.
Vivemos num mundo cada vez mais mesquinho, friu e extremamente calculista. Sua capacidade e competência é medida pelo lucro que desenvolves. Seus princípios, valores, sentimentos, criatividade nao são mais considerados...

O que diferencia eu de você?
O que diferencia um hippie de um empresário?
O que diferencia um simples poeta a um jornalista da revista VEJA?
O que diferencia o "Latino" de grandes compositores ainda anônimos?
O que diferencia Cuba dos EUA?
O que diferencia a Loucura da Genialidade?



O que diferencia a Loucura da Genialidade?
É a produção!



Pensem!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Operários da Vida e do Mundo!

Lendo um livro muito bom, Máquina Capitalista de Pedrinho Guareschi, do qual já me tornei fã, pois ele acredita num mundo melhor, e que nós somos capazes de fazer as mudanças necessárias para esta melhora, num trecho do livro, ele cita uma poesia de Vinicius de Moraes, O Operário em Construção, que descreve a realidade de um operário, sua visão do mundo, sua ingênua consciência, e também quando ele consegue compreender a verdade de tudo, de quem realmente é, o que lhe pertence, o que pode fazer para melhorar o que já esta ai, uma poesia linda e de uma realidade surpreendente para quem consegue compreende-la, ai que esta, eu costumo dizer que estou em uma eterna construção e tenho consciência disso, bom seria se todos tivessem, (esse poema veio para reafirma tudo aquilo que eu pensava) e neste caso me considero uma Operaria da Vida, estamos aqui para aprender, alcançar objetivos, mas temos que saber viver, saber ver o bem, fazer o bem, ter a consciência de que podemos fazer uma realidade muito mais bonita que essa que costumam nos “enfiar goela abaixo”, nas escolas, igrejas, na sociedade em geral, nos fazendo crer ser submissos, ou pertencer a uma “classe”, nos fazendo acreditar não sermos capazes ou coisas do gênero. Temos todo poder sobre nos mesmos, basta saber usa-lo e em cada nova situação, um novo aprendizado e mais um “tijolinho” na construção do nosso próprio eu e do mundo.



Operário em Construção (Vinícius de Moraes)


E o Diabo, levando-o a um alto monte,
mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória,
porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.



Tenham todos uma otima semana...
E sucesso em suas construções...


Até!